O Ônibus Espacial: a inserção em órbita (Parte 1.4)

Marcos Pontes
8/04/2007

Logo após a separação do Tanque Externo (ET), o ônibus espacial realiza uma manobra para registrar a queda e inspecionar o ET durante a sua reentrada na atmosfera. Nessa manobra o veículo assume uma posição invertida, de forma a termos uma ótima visão do ET através das janelas localizadas na parte superior (“teto”) da cabine de comando. Esse registro, feito por filmagem e fotografia, hoje em dia é usado como parte da análise das equipes de solo a respeito de possíveis danos estruturais no veículo orbital por partes de revestimento do ET desprendidos durante a subida.

Sem o ET preso ao seu ventre, o veículo orbital está, então, livre de todo o equipamento de propulsão extra anexado para permitir a sua chegada ao espaço.

A órbita nesse instante é elíptica de baixa altitude. A permanência nessa órbita iria forçar a reentrada do veículo na atmosfera. Assim, no ponto mais alto dessa órbita, realizamos a primeira “queima” (acionamento) positiva dos dois propulsores do OMS (Orbital Maneuvering System). Esse procedimento é chamado OMS-1. Esses dois foguetes, alimentados por hidrazina e localizados na parte inferior do estabilizador vertical, produzem 6.000 libras de empuxo cada um. Essa queima aumenta a velocidade da espaçonave e ocasiona um primeiro ganho em altitude de órbita.

Depois de aproximadamente 45 minutos (meia órbita), os propulsores do OMS são acionados novamente para um segundo aumento de altitude e circularização de órbita, levando o veículo a uma altitude final de cerca de 400 quilômetros. Essa queima é chamada OMS-2. A altitude final de órbita, assim como a necessidade ou não da execução do OMS-1 são ditados por fatores específicos de cada missão. O Centro de Controle coordena todos os parâmetros junto com a tripulação.

Durante o período de inserção, a tripulação toda tem atividades intensas na reconfiguração dos sistemas para a órbita. O ônibus espacial tem dois “decks”: o “flight deck” e o “middle deck”. No primeiro, estão presentes todos os controles de vôo do veículo. No segundo, ficam os experimentos, o banheiro, materiais diversos, sacos de dormir, e outros equipamentos de suporte. Enquanto o Comandante, o Piloto e os Especialistas de Missão 1 e 2 preparam os sistemas e comandam as queimas no “Flight Deck”, os outros Especialistas de Missão, normalmente mais 3, preparam tudo no “middle deck”.

A reconfiguração inclui mudanças de válvulas nos sistemas de controle de atmosfera, sistema elétrico, refrigeração, processamento de dados, sistema de suporte à vida, controle de atitude, comunicação etc.

Nas próximas notas, continuaremos com a fase de órbita!

Grande abraço a todos!


Marcos Pontes

Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).

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